A freguesia de Avelãs de Cima é a maior do concelho de Anadia. Entre planície e serra, espraia-se por uma vasta superfície: 4.057 hectares. O seu largo e verdejante território é igual ao das oito freguesias mais pequenas do concelho. Demograficamente, ocupa a quarta posição.
Confronta, a Norte, com as terras de Aguada de Cima e as fronteiras fazem-se através de malhões e marcos, postados nos lugares do Pardieiro e Boialvo que, todos os anos, em sábado gordo, são visitados e, se necessário, limpos pelos autarcas de ambas as freguesias. Este costume era antigo, mas caducou por 1890, sendo retomado na segunda metade do séc. XX.
Sempre houve questiúnculas entre as freguesias quanto às delimitações. Mas também entre os senhores das terras, no caso, entre o Mosteiro de Santa Cruz, por um lado, e a Casa de Aveiro, por outro. De modo que, por esses motivos, houve uma demarcação em 1691 entre as freguesias de Aguada de Cima e Avelãs de Cima, junto a Boialvo, mais precisamente “na Gândara da Cruz”, então “termo da vila de Aveiro e de Sangalhos, outrora chamada Cruz da Figueira”, onde havia três marcos, com a indicação da Universidade de Coimbra.
O marco de Aguadalte extrema três freguesias: Aguada de Cima, Sangalhos e Avelãs de Cima; a Sul, com as freguesias de Arcos e da Moita cujas fronteiras estão assinaladas igualmente por marcos; a Nascente, com as freguesias de Agadão, concelho de Águeda, e Pala e Espinho, concelho de Mortágua; Poente, a freguesia irmã siamesa na raiz etimológica, onde os marcos estão mais apagados.
Com mil anos de povoamento, senão mais, é contemporânea da fundação da nacionalidade. No entanto, a terra mais vetusta é Canelas, que já é referenciada em documento no ano de 952 como Villa. Nos sécs. X e XI, época da primeira Reconquista, havia o senhor, que tinha o seu “paço” (palacete) e os trabalhadores que trabalhavam, de manhã à noite, as glebas que haviam ficado dos mouros. Vale do Mouro foi local cujo nome sobrou desses tempos.
No século XII, Avelãs de Cima já era freguesia, com igreja da invocação de S. Pedro e de S. Paulo, apóstolos. Teve três igrejas. A última, “reedificada” entre 1714 e 1743, tem uma fachada vistosa, soberba, do melhor, a nível dos templos da Bairrada.
Ainda a nível de templos, possui um que é considerado pelo IPPAR como monumento de interesse concelhio. É a capela de Nossa Senhora das Neves que já foi de muita devoção e romarias e agora nem a centenária fonte pinga rumores de outrora. Tudo ameaça ruína.
A terra herdou o nome de um fruto. Região de muitas avelaneiras ou aveleiras, sobrou aos autóctones a melhor parte: as avelãs. Outros frutos geraram o nome de outras terras: Pereiro e Figueira. A floresta sombreou o nome de outras, as Matas.
A freguesia é formada (ou formou-se) à volta de três núcleos principais:
1. Avelãs de Cima, com os lugares de Avelãs de Cima, Candieira, Cerca, Coutadas, Pereiro, Porto de Vide, S. Pedro e Senhora das Neves do Pinheiro.
2. Boialvo, com os lugares de Boialvo, Figueira, Corgo de Cima e Corgo de Baixo, Mata de Cima e de Baixo e Pardieiro – ou fossem os lugares que pertenceram à antiga Ouvidoria de Boialvo e termo da vila e concelho de Aveiro. Todas são as aldeias mais afastadas da sede.
3. Canelas, com os lugares de Canelas, Ferreirinhos e Póvoa do Gago.
Avelãs de Cima foi terra que pertenceu ao Infante D. Pedro e integrou as “Terras de Vouga”. Em 1288, tinha Julgado, a par de Esgueira.
Foi concelho medieval, com imenso território que alcançava Famalicão e terras que ficavam junto a Vila Nova de Monsarros, Ancas e S. Lourenço do Bairro. Teve Foral Velho dos reis D. Dinis e D. Afonso, mas, em 10 de Janeiro de 1514, recebeu Foral Novo de D. Manuel I. Havia de extinguir-se, em 1836, a favor da restauração do concelho de Anadia, povoação que chegou a pertencer-lhe, ainda que por um breve período.
Avelãs de Cima, freguesia, foi constituída por terras também importantes ao tempo pela sua situação geográfica, riqueza do solo, povoamento e desenvolvimento económico: Pereiro que foi Couto e minúsculo concelho, e Boialvo, que foi Ouvidoria do termo do concelho de Aveiro, e igualmente minúsculo concelho, dois enclaves, administrativamente falando. Eram três concelhos integrados no mesmo espaço de uma paróquia. Talvez, caso raro e algo insólito no nosso país.
A Poente, as populações beneficiavam, primeiramente, das estradas mouriscas ou romanas, depois da estrada real que passava por Avelãs de Caminho. A Nascente, da “carreira velha” de Canelas.
Desde 1836, a freguesia, a maior de todo o concelho, está integrada no concelho de Anadia, distrito de Aveiro, província da Beira Litoral. (Em 1527, era uma parte da Comarca da Beira e outra parte da comarca da Estremadura (os lugares que pertenciam ao termo e concelho de Aveiro). Em 1689, segundo Vicente Ribeiro Meireles (Promptuário das terras de Portugal com declaração das comarcas a que tocão) pertencia, parte (lugares que constituíam então concelho) à Comarca de Esgueira. Em 1762, pertencia ainda à Província da Beira e, por último, à do Douro, ainda no séc. XX, e ao distrito do Porto. Porém, em 1835, passava para o distrito de Aveiro. Naquela altura, pertencia à Relação do Porto até à criação da Relação de Coimbra.
Pertence hoje à Comarca de Anadia que, em 1835, era apenas um Julgado. (Já integrou também a Comarca e Provedoria de Esgueira, entre 1533 e 1762, ano em que passava para a Provedoria de Aveiro). Nesta freguesia chegou a haver duas varas de juízes: uma no Couto do Pereiro, que era da Universidade de Coimbra, e outra na Ouvidoria de Boialvo, que era da Correição do ouvidor de Montemor-o-Velho.
Religiosamente, desde o dealbar da nacionalidade sempre pertenceu à Diocese de Coimbra, até que foi criada a de Aveiro (12 de Abril de 1774), mas, com a sua extinção (Setembro de 1882), regressava a Coimbra, até que, depois de várias tentativas, em 16 de Janeiro de 1938, era restaurada a Diocese de Aveiro, sendo nomeado seu bispo, D. João Evangelista de Lima Vidal, que tomou posse solene no dia 11 de Dezembro.
É constituída por 16 lugares, com gente briosa e bairrista. A prova disso é que não há um único lugar, digno desse nome, que não tenha a sua capela, de construção mais antiga, secular, ou mais recente, com o padroeiro ou padroeira de sua devoção, se mais moderna, ou de seus antepassados, se mais antigas.
Segundo o último Censo, de 2001, a população ascende a 2446 habitantes (1209 H e 1237 M), o que dá uma média de 60,3 de habitantes por Km2.
Fonte: “Avelãs de Cima – O lado da história” de Armor Pires Mota